Cerca
de 50 crianças de Cubatão, no litoral de São Paulo, com idades entre 4 e 6
anos, estão estudando de um jeito diferente na Unidade Municipal de Ensino
Estado de Alagoas. Com binóculos e movimentos atentos em direção as árvores, as
crianças tem como objetivo identificar espécies de pássaros. No parque do
colégio, que os alunos carinhosamente apelidaram de observatório, eles
participam de aulas ao ar livre e cuidam de pássaros da Mata Atlântica.
Tucanos,
papagaios, beija-flores e pássaros de diversas espécies são visitas frequentes
na escola que fica no bairro Pinheiro do Miranda, localizado nas encostas da
Serra do Mar. O canto e as cores dos pássaros que passam por lá fizeram surgir
o projeto Passarinhando. A ideia das professoras Roberta Petin, Marisa Fróes
Gonçalves e Ana Paula Santos Coutinho surgiu durante uma conversa em uma rede
social. Elas decidiram resgatar um desejo antigo de incluir a educação
ambiental no dia a dia das crianças e, desta forma, promover a iniciação à
leitura e à escrita. “Tudo que a gente faz não fica só no papel. A gente tem um
espaço muito grande aqui”, diz a professora Roberta.
Não
foi preciso muito esforço para colocar as crianças em contato com a natureza,
já que é possível ouvir os passarinhos nas janelas das salas. As professoras e
alunos começaram a investigar as espécies, a colocar alimentos para os
pássaros, além de observar sua rotina. Depois de alguns dias, cuidar dos
animais que moram ao lado da escola virou um hábito diário. No começo da manhã
as crianças aprendem a preparar a água para as variadas espécies de beija-flor
que circulam na área. Elas também colocam frutas para atrair outros tipos de
pássaros para o parque da escola. “Toda vez que a gente avista um pássaro novo
a diretora mostra nos livros, que agora são disputadíssimos. Eles querem
procurar no livro os pássaros que eles viram lá fora. Dá pra ver muitos.
Tucano, papagaio, periquito, beija-flor. O bacana é que eles sempre estavam por
aqui. Mas a gente nunca teve esse olhar”, conta Roberta.
Para
despertar o interesse das crianças, Roberta trouxe um binóculo de sua casa.
Depois, com a contribuição da Associação de Pais e Mestres, a diretora Monica
Marques de Paula adquiriu binóculos de brinquedo e outros de verdade para as
crianças usarem nas aulas de observação. Ela diz que, desta forma, as crianças
educam os ouvidos e o olhar sobre a natureza. Depois da prática, as professoras
também levam o assunto para a sala de aula. Elas mostram livros, trabalham
poesias sobre pássaros, falam sobre a Mata Atlântica e o cuidado com o meio
ambiente. “Podemos atingir todas as áreas do conhecimento de maneira bem
lúdica”, explica Roberta.
Com o
início do projeto, as professoras descobriram que muitas crianças tinham gaiolas
em suas casas e que isso era um hábito na comunidade. O jeito foi mostrar para
os pais que a liberdade dos pássaros seria um dos assuntos mais tratados na
escola. Durante uma reunião, as professoras colocaram um espelho dentro de uma
gaiola e fizeram a seguinte pergunta para os pais: “Quanto tempo você
aguentaria morar num lugar desses?”. A pergunta serviu para a reflexão dos pais
e foi somada ao aprendizado dos filhos. A professora Roberta conta que após a
reunião e as aulas de observação dos pássaros alguns alunos disseram que não
havia mais gaiolas em casa e outros também contaram que estão alimentando
pássaros e até tucanos no quintal.
A
diretora do colégio, Monica Marques, que também é bióloga, gostou do projeto
desde a primeira conversa. Ela conta que acompanha os alunos e aproveita para
fotografar as aulas que são feitas ao ar livre. “Nós estamos na subida da
serra, em Cubatão. Em todo o lugar que a gente olha é mata. A gente tem uma
cultura que privilegia a leitura das letras, das palavras. Mas a leitura da
natureza é menos valorizada”, diz ela.
Monica
diz que os pássaros tem sido o assunto principal das crianças. Segundo ela, até
quando estão brincando elas param para observar algumas espécies que encontram
nas árvores. A diretora acredita que as crianças podem ser as disseminadoras e
defensoras das ideias ligadas ao meio ambiente. Por enquanto, três classes
participam das atividades, mas outras já estão começando a se interessar pelo
projeto. “Todos estão se envolvendo no projeto por entusiasmo”, conta.
As
professoras querem trazer a família para a escola cada vez mais para discutir
questões ligadas ao meio ambiente, principalmente sobre a mata atlântica, que
está mais próxima a eles. Um outro objetivo do projeto é realizar, nos próximos
meses, um concurso fotográfico sobre pássaros, para que todos tenham mais
conhecimento sobre as espécies da região.

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