Alexandre Biondo, professor de medicina veterinária da Universidade Federal do Paraná, fala sobre o que podemos aprender com os abrigos de animais dos Estados Unidos:
“Os modelos de abrigos e abordagem aos animais domiciliados,
semi-domiciliados e abandonados nos EUA e Brasil são completamente diferentes,
e a diferença básica está também na saúde humana. Enquanto nos EUA há
excelentes hospitais, todos privados, no Brasil o Sistema Único de Saúde (SUS)
pressupõe, embora com certa dificuldade, o atendimento gratuito a toda a
população.
Do mesmo modo, embora os abrigos americanos
tenham uma excelente estrutura e equipamentos, muito mais recursos e uma alta
qualidade de vida dos animais, eles são primeiramente privados, mantidos por
doações e voluntários, sem grande envolvimento do setor público e/ou centros de
Controle de Animais (Animal Services).
Aqui, em sua maioria, os espaço acolhem
animais com baixa qualidade de vida com iniciativas individuais ou de pequenos
grupos que carecem de recursos e que contam com ajuda do setor público ou com
concomitante recolhimento de animais em risco pelos Centros de Controle de
Zoonoses (CCZ).
De acordo com o professor gaúcho Helio Autran de Morais, diretor do
Hospital Veterinário da OSU (EUA), os cães não domiciliados seguem caminhos
diferentes nos EUA e no Brasil. Nos EUA quase não se observam cães de rua, pois
são todos recolhidos num sistema de ‘concentração de animais’, onde são em
parte triados para eutanásia imediata, outros, selecionados, tratados,
castrados e postos para adoção. Ou seja, o sistema entende como maus tratos não
a eutanásia em si, mas a manutenção de animais indefinidamente em baixa
qualidade de vida.
Já o Brasil tem um sistema de ‘distribuição
de animais’, em que é comum encontrarmos animais nas ruas, em grande parte
semidomiciliados, e o recolhimento e eutanásia têm sido gradativamente restrito
pelo poder público e proibido por leis municipais, estaduais e federais, e, em
particular, interpretados como ‘crimes ambientais’. Além disso, muitos abrigos
funcionam como acúmulo de animais, devido a superlotação dos mesmos associados
a baixas taxas de adoção.
O investimento no bem-estar e melhoria da
condição de vida dos animais parece ser o caminho, e não é novidade no curso de
Medicina Veterinária da Universidade Federal do Paraná (UFPR), pioneira na
criação da disciplina Medicina Veterinária do Coletivo (Shelter Medicine ou
Medicina de Abrigos), acompanhada da instituição da Residência em Medicina
Veterinária do Coletivo.
Tanto a disciplina como a residência, que
funcionam em parcerias com municípios da Região Metropolitana de Curitiba, são
voltadas ao problema de populações de cães e outros animais abandonados e ou
que sofrem com a falta de cuidados. O modelo brasileiro parece favorecer uma
‘Medicina Veterinária Comunitária’, sem recolhimento de animais saudáveis com
atenção básica e gratuita e atendimento a animais em risco nas comunidades
carentes ou que possuam cães e gatos semidomicilados.
Na minha concepção, parece ser mais
interessante no Brasil um Sistema Único de Saúde Animal (SUSA), seguindo o
modelo do SUS, promovendo a saúde animal como parte da saúde de entes
familiares não humanos das famílias brasileiras. Hospitais veterinários
públicos, nesta abordagem, são uma alternativa na medida em que, também
seguindo o modelo de hospitais universitários para pessoas, sejam vinculados ao
ensino superior e promovam a saúde gratuita voltada às comunidades carentes e
desatendidas".
Fonte: Informativo SEDA de 23/11/12

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