Estivemos recentemente em visita à
Turquia. Além da deslumbrante formação geológica distinta em cada região no
país, a cultura milenar enraizada que se manifesta em distintos hábitos e
costumes, a rica gastronomia e a singularidade daquele povo inquieto que não
gosta de ficar em casa à noite e tem nos passeios noturnos uma rotina
prazerosa, chamou-nos a atenção a questão dos animais sem raça definida (os
SRD's) que circulam com dignidade, livres e seguros. Eles são muitos, milhares,
espalhados por todo território.
Praças,
parques, monumentos históricos e espaços públicos em geral abrigam animais
sadios, bem alimentados que disputam território, sim, mas não se afugentam à
presença do ser humano. Buscam olhares de admiração e sabem exatamente quem
poderão seduzir e obter ora um afago, uma foto, uma carícia concedida em troca
de apetitosa comidinha. Os grupos de felinos convivem pacificamente entre si e
alertam-se somente ao som de cães que passeiam com seus donos, afinal, esses
sim são os estranhos no ambiente. Gatos sem qualquer demonstração de
agressividade mas, como que em código estabelecido entre si, não permitem nada
além do toque, reservando-se a manterem-se em terra firme; pegá-los nos
braços para um ninar é ter a surpresa do um pulo certeiro e rápido daquele de
quem tentar detê-lo.
Os KÖPEKLER (cães) e os
KEDILER (gatos), cujas pronúncias são, respectivamente, kpécler e
quedíler, são respeitados por todos, indistintamente, cidadãos turcos e
turistas. Circulam, caminham e passeiam sem medo. São elementos que compõem a
paisagem e referência da Turquia, ilustrando souvenires e servindo de motivação
à indústria da produção cultural. Mas como tudo não acontece em toque de
mágica, este processo também teve uma origem e um histórico, fruto de um forte
movimento aos animais de rua depreendido há menos de 10 anos pela
pressão popular e dos movimentos organizados em torno de uma mesma causa:
defendê-los, protegê-los, alimentá-los e cuidá-los.
A organização
executiva-política das cidades é composta por “Câmaras”, o que equivaleria, em
termos, as nossas prefeituras locais, porém, elas são definidas de acordo com o
número de habitantes de cada região de tal maneira a permitir que todas as
áreas sejam atendidas por seus representantes eleitos, e não de acordo com os
limítrofes territoriais impostos em antigas convenções. Repasses simbólicos
financeiros são concedidos às Ong's, cujo objetivo é mais o de vínculo do que
propriamente o de tutela aos animais porque são elas, as câmaras, que definem
as regras, a observância quanto ao cumprimento às leis e as sanções.
Procedimentos de esterilização e médicos-veterinários são garantidos às
entidades e elas se encarregam da manutenção dos bichanos contando com o apoio
e cooperação da população.
No caso dos cães, por exemplo, não
existe um número definido de animais por domicílio, mas se houver duas
denúncias a respeito de um mesmo animal, ele passará a ser controlado
pelo “setor de controle urbano” da “Câmara” e seu proprietário terá que tomar
medidas efetivas com vistas a solucionar a perturbação que este animal está
propiciando aos vizinhos, do contrário, será retirado da família com a qual
convive. O que normalmente acontece é a mudança do local de moradia para outro
mais afastado e que não apresente riscos a nova interveniência por parte do
poder público local, severo, sem dúvida.
Nos centros
urbanos e de grande movimentação de pedestres e transeuntes, no máximo cinco
(5) cães podem fazer seus percursos com seus passeadores ou cuidadores; nos
bairros e periferias não existe esta imposição, onde é permitido circular com
grande número sem qualquer constrangimento. A maior surpresa foi constatar uma
espécie de brinco à orelha dos cães, em parte não sensível dela, onde é
introduzido o chip ou registro dos dados, distinto em cores de acordo com a
“Câmara” que exerce a competência local. Ao invés do chip diretamente no corpo
do animal, o governo turco optou por identificá-lo com estes “brincos”, ali
armazenados dados de procedência (quando o tem), da sua saúde, o nome do
responsável, datas das vacinas, da esterilização, vermifugação etc. A revisão é
periódica e previamente agendada com as organizações.
Crianças são motivadas a participarem
e cooperarem com estas ações e grande parte da ração arrecadada provém das
escolas, públicas e privadas; fortes campanhas ilustrativas estão afixadas em
áreas de publicidade e propaganda; pontos específicos de alimentação de espécie
de caixas suspensas com interior coberto visam a proteção do alimento
evitando o desperdício e os efeitos do tempo somam-se às dezenas distribuídas
com critério; e, o mais importante, o engajamento e a união dos diferentes
movimentos de defesa “hayvan” animal.
País com
histórico de guerras e disputas desfralda ao mundo a bandeira branca pela causa
animal: um exemplo a ser seguido! A Turquia ficará para sempre em nosso
coração: deixamos amigos, sentimos o calor da sua gente e constatamos em ações
simples o vislumbrar daquilo que esperamos um dia atingir e nos orgulhar:
animais têm direito à vida digna, saudável, respeitosa e merecem por parte de
todos, poder público e sociedade, a proteção e o amparo.
Acessem: Ypedikule Hayvan Barinai, Türkiye Hayvan Barinak, wwwhaber34.com\ist
No Google: Istanbul 'un Hayvan Barinaklari
Turquia tem postos
para alimentar animais de rua
Descarte de animais não depende da
condição econômica de uma nação. Esta triste realidade está diretamente ligada
à inconsciência e falta de respeito ao próximo.
Quando falamos
em próximo, não nos referimos necessariamente aos humanos. Os animais também são
nossos próximos, muitas vezes, até mais que os próprios humanos, com toda sua
fidelidade, respeito, dedicação e amor incondicional. Sim, os animais amam seus
donos acima de tudo, sejam eles dignos de respeito e admiração ou não.
A passos
curtos, mas felizmente, as pessoas estão começando a retribuir a este amor não
apenas àqueles cães e gatos domiciliados. Na Turquia, por exemplo, também é
visível e elevado o número de animais abandonados, porém, eles não estão sós. O
poder público e associações de Proteção dos Animais instalaram no município de
Sisli estações de alimentação que fornecem água e ração.
As instalações
foram projetadas especificamente para permitir que cães e gatos que
perambulam pelas ruas possam viver com o mínimo de dignidade. As estações são
supervisionadas regularmente para garantir a manutenção das condições de
saneamento e estão disponíveis durante 24 horas.
A medida vem
ao encontro de outras leis, no sentido de proteger os animais abandonados.
Desde 2004, Sisli é obrigado a vaciná-los e esterilizá-los e a sociedade também
dá sua contribuição. Os moradores se revezam na rotina dos bichos e organizam
campanhas de adoção.
Devido ao
crescente número de cães e gatos esterilizados, a situação de abandono em
Istambul está diminuindo. Esta é uma tendência em Porto Alegre e outros tantos
municípios que seguirem exemplos bem sucedidos de Direitos Animais, sejam de
países de Primeiro Mundo, sejam de países menos desenvolvidos. A questão do
abandono é universal, mas o desejo de mudá-la depende de cada um de nós,
cidadãos, homens de bem que respeitam seu próximo.
Fonte: Informativo SEDA de 07/12/12
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