A
decisão, que data de 31 de maio deste ano, veio da 3ª Vara Criminal e ainda é
passível de recurso. No entendimento do juiz, conforme consta na sentença,
G.P.S.R. (o nome completo foi preservado)“omitiu-se dolosamente nos deveres de
cuidado para com os cães, permitindo que fossem infestados significativamente
por carrapatos”.
Na
ocasião, após uma denúncia anônima, a ONG Naturae Vitae chegou até a casa em
que estavam Britney, de 4 anos na época, e Menina, com cerca de 9 meses. As
duas cachorras estavam infestadas de carrapatos. O volume de aracnídeos
parasitas era tão impressionante que assustou a veterinária que tratou das
cachorras.
“Em 15
anos atendendo, nunca vi algo assim. Nunca vi tanto carrapato junto. A orelha
formava uma espécie de ‘girassol’ de carrapatos. Elas estavam anêmicas e muito
assustadas. Se não fossem socorridas, do jeito que estavam, aguentariam mais
uma semana”, conta a veterinária Ana Lúcia Geraldi.
As
cachorras ficaram cerca de 30 dias em tratamento na clínica. “Para se ter uma
ideia, tivemos que cancelar todos os nossos banhos. Fomos limpando e tratando
as duas com muitos cuidados”,complementa.
O dono
foi denunciado por maus-tratos e um boletim de ocorrência (BO) foi realizado.
Durante o julgamento, ele se defendeu dizendo que uma das cachorras conseguiu
escapar pelo portão da residência e se infestou de carrapatos na via pública.
Entretanto,
tanto a veterinária quanto a decisão judicial apontam que é impossível uma
infestação daquela proporção em uma eventual escapada. “Evidentemente, tal
situação não foi fruto de um simples contágio fortuito e isolado, e sim da
omissão reiterada e prolongada do responsável pelos animais”, consta, na
sentença.
Assim, o
réu foi condenado no artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais (9.605/98),
combinado com o artigo 71 do Código Penal, uma vez que, pelo estado em que as
cachorras se encontravam, entendeu-se que o crime fora continuado.
Lei
branda
A
advogada que representa a ONG Naturae Vitae, Mariana Fraga Zwicker, comemorou a
sentença, que, segundo ela, é uma das pioneiras em Bauru. “É um começo muito
importante na nossa luta. É muito bom ver que a lei realmente não está só no
papel”, afirma.
Porém, é
evidente que a lei é branda. Por ser réu primário, ele foi condenado a três
meses e quinze dias de detenção em regime aberto e a pagar multa de 11 salários
mínimos mais as custas do processo. “Sabemos que a lei é branda. Porém, estamos
engatinhando. Antes, os animais não eram nem enxergados pela lei”, completa a
advogada Mariana Zwicker.
Após
serem recolhidas do antigo dono e tratadas, Britney e Menina foram colocadas
para a adoção. O nome da nova proprietária e a localização são mantidos em
sigilo por conta de segurança.
Ontem,
porém, a reportagem foi até a “nova casa” e encontrou Britney e Menina. Sadias
e corpulentas, elas não lembravam nem de longe as cachorras recolhidas em 2010.
“Parecem leitoas”, disse, ao ver o tamanho da “saúde” das cachorras, o
motorista do JC. Não são leitoas. São cachorras que tiveram um final feliz
dando uma “pontinha de esperança” em meio a tantos casos de crueldade a
animais.
Destinada ao CCZ
O titular
da Delegacia de Crimes Ambientais, Dinair da Silva, afirma que, em Bauru, outra
pessoa foi condenada por maus-tratos a animais. Apesar de o caso não ter sido
divulgado, a multa estaria sendo revertida ao Centro de Controle de Zoonoses da
cidade.
Na tarde
de ontem, por meio da assessoria de comunicação da prefeitura, a Vigilância
Ambiental informou que está recebendo doações referentes a tal ação judicial
citada. Em nota, a assessoria confirmou que as doações são em conformidade com
as necessidades do CCZ, que vão de ração a cobertores.
Dez casos
de maus-tratos por mês são enviados ao Fórum em Bauru
Tratar
com violência um animal parece, para muitos, algo impensável. Porém, essa
realidade em Bauru é mais frequente do que se pensa. Os números da Delegacia de
Crimes Ambientais, que funciona no 1ºDistrito Policial (DP), confirmam isso.
Quem demonstra os dados é o titular da especializada Dinair José da Silva.
Segundo
estimativas do delegado, mensalmente, são enviados ao Fórum da cidade cerca de
10 processos envolvendo maus-tratos a animais. O número de apurações também
aumentou bastante nos últimos anos.
Enquanto
houve 41 procedimentos de apuração em 2010, esse número triplicou no ano
passado. Foram 127 apurações. O motivo dessa “explosão” de casos investigados
foi exatamente a instalação da Delegacia de Crimes Ambientais, no começo de
2011.
Já em
2012, até agora, já são 76 ocorrências registradas. O delegado Dinair da Silva
concorda que a lei é branda, porém, comemora os casos de condenação. “Isso
evita a reincidência. Se a pessoa cometer o crime de novo, ela pode se
complicar. Acho que a condenação é uma resposta muito boa a quem achava que não
iria dar em nada”, aponta.
Ele ainda
afirma ter esperanças de que a legislação se torne mais rígida no futuro. Para
o delegado, “além de agravar a pena, a esperança é de que, em alguns casos, a
pessoa possa ser autuada em flagrante”.
Fonte: JC
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