Entre olhares de
admiração, espanto, surpresa e curiosidade, a cadela Clara, da raça fila, com
três anos e 73 kg, entrou ontem tranquilamente pela recepção e passou por
corredores de um dos mais importantes hospitais do país, o Albert Einstein, em
São Paulo. Ela foi visitar o tutor, que está em tratamento contra um câncer na
bexiga.
Após
três anos de testes e preparo de equipes, o hospital liberou, sob rígido
protocolo, que animais domésticos, considerados membros da família, visitem
pessoas internadas – mesmo em unidades semi-intensivas.
“Meus
filhos moram fora de São Paulo, são muito ocupados. A Clara acaba me fazendo
companhia em horas difíceis. Ela é parte da família. Poder tê-la comigo no
hospital faz a diferença no meu ânimo, na minha disposição”, diz o advogado
Ennio de Paula Araújo, 71.
A
entrada de bichos no Einstein – gatos e passarinhos também são aceitos – faz
parte também do cumprimento de regras de uma certificação internacional de
humanização que o hospital conseguiu no ano passado.
O
Einstein é o 35º hospital do mundo e o primeiro da América Latina a conseguir o
selo concedido pela organização americana Planetree.
“Poder
receber seus bichos aqui era um desejo frequente dos pacientes. Eles fazem bem
e, sem dúvida, interferem na cura”, afirma Rita Grotto, gerente de atendimento
do hospital.
Clara
teve de passar por uma avaliação de seu veterinário, que deu um laudo atestando
sua boa saúde, e tomar um banho caprichado antes da visita. Os tutores
apresentaram os documentos de vacinação e se comprometeram a mantê-la
tranquila.
“Mas,
antes de tudo, é preciso a autorização do médico, que tem de colocar no
prontuário do paciente que está de acordo com a visita. Uma equipe
multiprofissional checa se todo o protocolo foi cumprido. Na menor dúvida, a
entrada não será autorizada”, declara Grotto.
O
hospital diz que recebeu só uma queixa até hoje. A mãe de uma criança com
leucemia reclamou da presença de um cão, mas recuou depois de receber
explicações.
O
aposentado Menachem Mukasiey, 67, está há uma semana internado com um problema
no joelho e aguardava ontem, ansioso, a visita da poodle Bolinha. “Já passei
por vários hospitais e jamais me permitiram ver a Bolinha, que fica sem comer e
depressiva enquanto estou fora. Aqui é o único lugar que me deixaram recebê-la,
o que é uma alegria”, diz.
Paulo
de Tarso Lima, coordenador da área que implanta as medidas de humanização no
Einstein, afirma que “não está se falando de uma vontade de todos os pacientes”
e que “também não se autoriza a presença dos bichos em qualquer lugar, de
qualquer maneira”.
Para
o médico, o contato com os bichos pode levar “felicidade, paz e bem-estar” e
auxiliar a recuperação de algumas pessoas. “O encontro com um cão ajuda a
relaxar, a retomar a preocupação com o corpo, o que pode ficar perdido em
pacientes crônicos.”
O
Conselho Regional de Medicina de SP e a Sociedade Brasileira de Infectologia
não se manifestaram.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Se você irá apenas deixar o link do seu blog nem perca seu tempo,pois ele será deletado!